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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Pobreza : Condição de Nascença , Desgraça , Destino...



A pobreza é a expressão mais visível das desigualdades em nosso cotidiano. Ao longo da história, ela recebeu diferentes explicações, muitas das quais ainda permeiam nosso entendimento das desigualdades. No período medieval , o pobre era uma personagem complementar ao rico. Não eram critérios econômicos ou sociais que definiam a pobreza, mas a condição de nascença , como afirmava a Igreja Católica, que predominava na Europa ocidental. Havia até uma visão positiva da pobreza , pois esta despertava a caridade e a compaixão. E não se tratava de uma situação fixa, pois , como havia uma moral positiva , podiam ocorrer situações compensatórias em que os ricos eram considerados "pobres em virtude" e os pobres , "ricos em espiritualidade". De acordo com essa visão cristã de mundo , os ricos tinham a obrigação moral de ajudar os pobres. Outra explicação paralela , corrente no mesmo período , atribuía a pobreza a uma "desgraça" decorrente das guerras ou de adversidades como doenças ou deformidades físicas.  Isso tudo mudou a partir do século XVI, quando se iniciou uma nova ordem , na qual  o indivíduo se tornou o centro das atenções. O pobre passava a encarnar uma ambiguidade: representava a pobreza de Cristo e , ao mesmo tempo , era um perigo para a sociedade. Sendo uma ameaça social, a solução era disciplina e enquadramento. O Estado "herdou" a função de cuidar dos pobres, antes atribuída aos ricos. Com o crescimento da produção e do comércio , principalmente na Inglaterra , houve necessidade crescente de mão de obra, e a pobreza e a miséria passaram a ser interpretadas com resultado da preguiça e da indolência dos indivíduos que não queriam trabalhar , uma vez que havia muitas oportunidades de emprego. Essa justificativa tinha por finalidade fazer com que as grandes massas se submetessem às condições do trabalho industrial emergente. No final do século XVIII , com o fortalecimento do liberalismo , outra justificativa foi formulada : as pessoas eram responsáveis pelo próprio "Destino" e ninguém era obrigado a dar trabalho ou assistência aos mais pobres. Muito ao contrário , dizia-se que era necessário manter o medo à fome para que os trabalhadores realizassem bem suas tarefas. Com base nas teorias do economista e demógrafo britânico Thomas Malthus (1776-1834), segundo as quais a população crescia mais que os meios de subsistência , afirmava-se que toda assistência social aos pobres era repudiável, uma vez que os estimularia a ter mais filhos , aumentando assim sua miséria. Posteriormente , apareceram recomendações e orientações de abstinência sexual e casamento tardio para os pobres, pois desso modo teriam menos filhos.  Em meados do século XIX, difundiu-se a ideia de que os trabalhadores eram perigosos por suas razões ; eles poderiam não só transmitir doenças porque viviam em condições precárias de saneamento e de saúde, como também se rebelar , fazer movimentos sociais e revoluções , questionando os  privilégios das outras classes , que possuíam riqueza e poder.


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